Como o próprio nome sugere, a iniciativa promove a interação entre cegos e surdos por meio da dança. As aulas acontecem às sextas-feiras, entre 15h30 e 17h, na Escola Municipal de Arte e Educação Integrada Professor Paulo Bugni (Rua Dr. Flaquer, 824, Centro).
A atividade - atende 36 deficientes visuais - foi incorporada em 2008 a outro programa da Prefeitura, o Integrarte, também desenvolvido em parceria com a entidade desde 2000 e que reúne 16 bolsistas, dos quais 12 são ouvintes e quatro deficientes auditivos.
Conforme explica Geisa Maria, além da integração entre os alunos, a dança contribui para o equilíbrio e mobilidade dos deficientes visuais. "A dança ajuda na coordenação motora, nos movimentos, no conhecimento do próprio corpo."
Nos encontros, histórias de vida se misturam e os dramas individuais desaparecem como que num passe de mágica, embalados por ritmos como baião, forró, dança de salão e flamenca.
As aulas são comandadas por professores de dança, que contam com a ajuda de voluntários. Alguns deles iam à escola acompanhar familiares e depois aderiram ao programa. Voluntária - É o caso da estudante Beatriz Carella Bueno, 17 anos. Há dois anos ela acompanha a irmã, Marianna, que este ano passou no vestibular para o curso de Terapia Ocupacional, começou a trabalhar e deixou as aulas. "Vinha como acompanhante, mas vou prosseguir como voluntária porque gosto da dança e também porque sei o quanto é difícil para eles (deficientes) não poderem realizar alguns de seus desejos. A gente também se sente feliz quando doa um pouco àqueles que necessitam."
As aulas reúnem públicos de várias faixas etárias e histórias de superação como a da estudante de psicologia Graziely Stivaletti, 20 anos. Ela frequenta o programa desde sua criação e é velha conhecida dos funcionários da escola.
Graziely começou a fazer balé quando tinha 8 anos, ocasião em que perdeu a visão após passar por tratamento contra a leucemia. "Também estudei (balé) em outras escolas e voltei para cá porque queria aprender outros ritmos. Estava cansada da mesmice. Tenho paixão pela dança e pretendo me tornar professora de dança", revela.
A estudante diz que através do programa se interessou em aprender a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) para facilitar a comunicação com os deficientes auditivos. "Sei o alfabeto todo e alguns sinais. É um aprendizado para todos nós", avalia.
O torneiro-mecânico aposentado Lúcio Flávio Parre, 57 anos, que há 17 perdeu a visão por causa do diabetes, se inscreveu no curso para resgatar uma paixão antiga, a dança. Ele também frequenta as aulas desde o início do programa. "Depois que comecei a fazer as aulas meu equilíbrio melhorou uns 70%. Também melhorou minha autoestima. Infelizmente, ainda há muito preconceito com o deficiente e existem poucos lugares como este, em que a gente se sente incluído. Antes entrava em um lugar e ficava travado. Agora me sinto com mais liberdade para tocar a vida", relatou, ansioso para entrar logo na sala de aula para mais alguns minutos de lazer com os amigos.
Segundo Lúcio Flávio, a dança o deixou menos dependente da família e o ajudou a conhecer outros recursos que facilitam o dia a dia do deficiente visual. "Tenho ido mais ao cinema agora que sei que algumas salas têm audiodescrição. É maravilhoso, porque tem uma voz que descreve o que acontece no filme e a gente imagina as cenas."
A Secretaria de Educação da Prefeitura de São Bernardo disponibiliza veículos para os deficientes visuais frequentarem as aulas. Para participar é preciso se inscrever. O interessado pode frequentar o Dança Inclusiva pelo tempo que desejar. Outras informações pelo telefone 4121-4591.