É sua primeira gravidez e ela queria esperar o nascimento da filha, Analice, com tranquilidade. Não deu. Uma enxaqueca persistente e recorrente a tem deixado longe de sua rotina. A diferença é que, em vez de passar dias no hospital, Regiane recebe os cuidados em uma unidade de saúde que funciona como uma casa. “É muito melhor. Se estivesse internada do jeito tradicional, ia ser mais difícil suportar. Aqui a gente pode se movimentar com liberdade, ninguém manda a gente voltar para o leito. E também participamos das atividades. Estou aqui há 13 dias e contente com o atendimento, a equipe trata a gente com amor”, conta.
Regiane é uma das pacientes de alto risco atendidas na Casa da Gestante, Bebê e Puérpera, do Hospital Municipal Universitário (HMU) de São Bernardo. A unidade é destinada a pacientes que precisam de atendimento especializado por períodos prolongados, sem a necessidade da vigilância constante do ambiente hospitalar.
“Aqui temos o conforto de uma casa com a retaguarda técnica do hospital. É um atendimento diferenciado, menos intervencionista e muito eficaz para o tratamento de diversas situações de risco gestacional e neonatal. É um espaço que busca manter a autonomia da mulher durante o tratamento”, explica a médica Silvana Giovanelli, coordenadora da Obstetrícia do HMU.
Uma série de atividades lúdicas é promovida com o intuito de amparar, integrar, informar e entreter as gestantes durante o período em que permanecem na unidade. As ações têm participação ativa da equipe multiprofissional, formada por nutricionistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, dentistas e voluntárias.
Uma das ferramentas utilizadas são os jogos de tabuleiro, atividades criadas especialmente para a Casa com cartões ilustrados, perguntas e respostas que trazem questões sobre aleitamento materno, trabalho de parto e nutrição durante e após a gravidez. Também são realizadas psicoterapia em grupo e palestras sobre planejamento familiar, métodos anticoncepcionais, benefícios e direitos. Na “Hora do Bebê”, as enfermeiras utilizam uma boneca para orientar as futuras mamães e os papais sobre os cuidados nos primeiros dias de vida do recém-nascido, ensinando como fazer a higiene íntima, trocar fraldas, qual a posição mais adequada para dormir e como se deve agir no caso de engasgo da criança.
“Aproveitei todas as dicas. Como sou mãe de primeira viagem, tinha receio de não saber como cuidar da minha filha. Agora estou mais confiante”, diz Regiane.
A dona de casa Suzane de Oliveira Nunes Cruz, outra paciente em tratamento na Casa, também elogiou as atividades. “Estou na minha segunda gravidez, mas sempre tenho dúvidas. A família influencia, vizinhos dão dicas, é difícil saber quem ouvir. Aqui aprendemos o correto e o melhor para a gente e para o bebê”, opina. Suzane enfrentou picos hipertensivos e pré-eclâmpsia e passou 22 dias na unidade. “Sou muito ansiosa. Se tivesse que passar todo esse tempo no hospital, sem poder sair da cama, seria pior. Na Casa a gente vê o sol, vai até o quintal, conversa com as outras mulheres. Estou muito satisfeita”, afirma.
A enfermeira Nadia Diniz, responsável técnica pela Casa, explica que a programação ofertada ameniza a ruptura no cotidiano da gestante e é planejada levando em consideração os desejos e as necessidades das mulheres. “Durante as atividades, as pacientes e os funcionários se aproximam e, aos poucos, estabelecem uma relação de confiança. Sem contar que aprender de forma prazerosa é sempre mais significativo, é um conhecimento que tem mais chances de ser aplicado no dia a dia delas. Incentivamos que cuidem de si mesmas, adotem uma postura ativa diante da própria saúde. Isso é fundamental, inclusive, para evitar novas internações ou intercorrências.”
Estrutura - A Casa, que conta com dez leitos, recebe, em média, 50 pacientes por mês. A patologia mais comum acolhida pelo serviço é a pielonefrite (infecção do trato urinário), que corresponde a um em cada quatro casos internados na casa. São frequentes também os quadros como bolsa rota, diabetes e hipertensão. Em todas essas situações, se não houver monitoramento, são grandes os riscos de parto prematuro, o que coloca em risco a vida da mãe e do bebê.
A unidade ainda recebe puérperas e recém-nascidos, que necessitam de atenção diária por apresentar algum agravo ou que, por morar em locais distantes e de difícil acesso, não teriam condições de se deslocar até o serviço para receber o cuidado. Mamães que têm filhos recém-nascidos internados na UTI Neonatal do HMU também podem utilizar a Casa como suporte, além de receber orientações e treinamento sobre os cuidados especiais com o bebê.
“Tentamos ao máximo preservar o ambiente doméstico e acolhedor. Isso ajuda a diminuir o estresse provocado pelas intercorrências que enfrentam. Por isso permitimos e incentivamos a presença dos familiares”, comenta Nadia. A visita é aberta e pode ser feita das 9h às 21h.