Especialista de Harvard dá aula sobre mediação de conflitos

Setembro 26, 2013

“Uma cultura de paz e prosperidade é o maior presente que podemos deixar para nossos filhos. E o segredo para conseguirmos isso é aprendendo a lidarmos com nossas diferenças através da negociação”. Com estas palavras o antropólogo americano William Ury abriu sua palestra para 250 convidados no Centro de Capacitação dos Profissionais da Educação (Cecape) Dra. Zilda Arns, em São Caetano do Sul.

Um dos maiores especialistas mundiais em mediação de conflitos, Ury é fundador e diretor do Programa de Negociação da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e viaja o mundo como mediador de disputas políticas e econômicas, tendo atuado em países como Síria, Afeganistão, Colômbia, Venezuela e Chechênia.

 Durante mais de uma hora de explanação, Ury prendeu a atenção da plateia formada por educadores, gestores de organizações não-governamentais e autoridades com conceitos simples de mediação de conflitos, que podem ser utilizados tanto para lidar em uma briga familiar, uma disputa no ambiente escolar ou até em uma guerra. Ele lembrou que o desenvolvimento das comunicações, que permite a milhões de pessoas acesso a informações antes restritas, está causando uma verdadeira revolução na forma como a sociedade lida com seus conflitos. “Em todas as comunidades o papel da mediação está aumentando nos últimos anos. E nós negociamos do momento em que acordamos ao momento em que dormimos.”

 O antropólogo americano explicou que um dos principais erros em uma negociação é definir uma posição irredutível. “Nós temos de olhar através dos medos, dos desejos de cada parte envolvida em um conflito, e buscar o que é o real interesse das pessoas”. Ele destacou que a negociação é um desafio porque, normalmente, as partes tentam convencer o outro a aceitar os seus argumentos. “Este é o dilema de uma negociação. Quando tentamos trazer uma pessoa para o nosso lado, torna-se uma disputa entre a sua ou a minha posição. O que temos de fazer é nos colocar na posição do outro – se respeitarmos os interesses do outro, ele também respeitará os nossos.”

 A disputada palestra de William Ury contou com momentos de interação, com o especialista americano desafiando a plateia a realizar alguns exercícios úteis em uma mediação. Ele citou ainda exemplos da utilização de suas técnicas de negociação em momentos de tensão, como quando se encontrou com rebeldes que lutam a guerra civil da Síria ou na noite em que teve de lidar com um irritado Hugo Chavez, presidente da Venezuela, por conta de distúrbios que aconteciam na capital Caracas. “Nossa tendência em uma situação de conflito é reagir, e isso é um erro. Costumo dizer que quando estamos nervosos fazemos o melhor discurso do qual vamos nos arrepender depois. Às vezes o maior poder que temos é a habilidade de não reagir: é preciso duas pessoas para termos um conflito.”

 Os participantes do evento também tiveram a chance de fazer perguntas ao especialista em negociações, que ressaltou a importância de se ensinar os fundamentos da mediação para as crianças. “Essas habilidades podem ser ensinadas às crianças e vão prevenir muitos conflitos em nossa sociedade”, afirmou. “Muitas vezes uma negociação é uma simples luta de poder. O que temos de entender é que a possibilidade de mudar o jogo é o maior poder de um negociador. Se cooperarmos, teremos a possibilidade de aumentarmos a prosperidade de todos e resolveremos qualquer problema”, concluiu.

 Cultura de Paz - A palestra de William Ury coroou o início do Programa Municipal de Cultura de Paz de São Caetano, que já está implantado em três escolas da rede municipal e será ampliado para as outras. O prefeito Paulo Pinheiro, na abertura do evento, agradeceu pela visita ilustre e destacou a importância dos ensinamentos do antropólogo. “A mediação de conflitos é fundamental no ambiente escolar, pois estimula a convivência harmônica entre os estudantes, mas também é importante no dia a dia de todas as pessoas. Aprender a escutar e entender o outro, buscando compreender posições diferentes às nossas, é um exercício de humildade e também uma lição de vida que todos temos de buscar”.

 O diretor da Divisão de Políticas de Programas Educacionais de São Caetano e do Cecape, André Stábile, foi o responsável pela visita do antropólogo americano à cidade e ressaltou que a presença de William Ury falando sobre cultura de paz foi uma oportunidade de “iluminar o sistema e resignificar a Educação sancaetanense”. “Não dá para fazermos uma transformação em nossa sociedade que não seja pela educação pública”, avaliou. A secretária interina de Educação, Ivone Braido Voltarelli, também agradeceu a presença do especialista de Harvard. “É uma honra ter esta ilustre personalidade no Cecape. São Caetano recebe o doutor William Ury de braços abertos.” 

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